terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Fim de uma fase, começo de novos horizontes

Sempre fui apaixonada pela África. Mesmo agora, que estou de volta ao Brasil, confesso que penso em voltar. Não já, mas em um futuro não muito distante.

Depois de seis meses de vida em Moçambique, volto para o Brasil com uma mala cheia de aprendizado. Aprendi a ter paciência, e muita. Aprendi que nem sempre as coisas saem conforme o planejado - e que isso, ao menos em Moçambique, é quase uma regra. Aprendi, na marra, a contar até mil, a respirar fundo, e a aguentar mais cinco minutinhos além do que pensava que poderia suportar. Consegui viver sem ter planos - e isso, além de aprendizado, foi uma conquista que jamais pensava alcançar.

Depois de seis meses de trabalho duro e muita resistência, volto antes do tempo planejado. Jamais fui tão persistente em um trabalho. Talvez por isso tenha voltado com um pouco de frustração. Mas, ao mesmo tempo, volto com a certeza de dever cumprido, de ter aguentado até o fim, e de ter aberto mão da minha teimosia em querer fazer dar certo quando o poder de decisão já não estava em minhas mãos. E, pra quem me conhece, posso garantir que as injustiças que sofri não ficarão debaixo do tapete.

Ser voluntária em Moçambique é algo desafiador. O tempo foi curto. Mas, mesmo com tantos problemas, vi que há pessoas que se diferenciam. Há os que se importam, há os que reconhecem o trabalho em equipe, e há os que, assim como eu, mantêm a teimosia em deixar algum legado no mundo. Apesar de todos os contratempos, hoje vejo que o que fiz não foi em vão. Não me arrependo, em momento algum, de ter ido pra Moçambique. E, mesmo sem ter atingido totalmente o que buscava, tenho a certeza de que algumas das sementes que deixei germinarão.

Além do trabalho, pude conhecer muitas pessoas e lugares diferentes. Vi que o mundo é ainda menor do que imaginava e que amizades podem, sim, surgir em pouco tempo.

Hoje, estou de volta ao Brasil, com novos desafios, oportunidades em vista. Algum tempo ainda vai passar até que eu volte. Mas um dos meus pés sempre estará do lado de lá do Atlântico.

África, até breve.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

2013 Hakuna Matata!

Começar o ano em Zanzibar foi, sem dúvida, a melhor escolha que fiz em Moçambique. Sonhava conhecer desde 2005, quando um amigo me mostrou algumas fotos de umas mini-férias que passou lá. Por mais lindas que as fotos fossem, Zanzibar é, de longe, muito melhor do que se imagina.

Forte de Stone Town, palco da guerra mais curta da história.
Fiquei na praia de Matemwe, no lado leste da ilha. O clima é obviamente quente, mas a brisa do mar e o vento constantes refrescam muito. A água é cristalina, e a vista é de tirar o fôlego. Optei por ficar em um resort roots, mas ecologicamente correto, com reaproveitamento da água, energia solar, frutas plantadas no quintal. Uma beleza. Saí de lá apenas três dias, dois para conhecer Stone Town, e um para fazer snorkeling.

Não sou especialista em história africana, mas, em uma breve pesquisada na internet, dá pra saber o básico. Zanzibar foi, por muito tempo, e como boa parte da África, um centro de trocas e um ponto de parada aos navegantes. Seus principais produtos de exportação eram as especiarias, ainda hoje cultivadas, e o comércio de marfim e de escravos. Passou pelo domínio português, árabe, e foi protetorado britânico.

Stone Town, que é a parte urbana da ilha, foi palco da guerra mais curta de toda a história - 45 minutos de bombardeios para os soldados de Zanzibar se renderem aos navais britânicos. Depois disso, teve um mês de monarquia antes da revolução que levou à independência e ao nome de República de Zanzibar e Pemba. Hoje, as ilhas fazem parte da Tanzânia, mas como região semi-autônoma. E, o mais importante de tudo: é a terra onde nasceu Freddie Mercury :)

Ruas estreitas de Stone Town.
A língua que se fala localmente é o swahili e a moeda local é o Tanzanian Shilling, que dá um nó na cabeça logo de cara. Com um dólar dá pra comprar 1600 shillings. O bom é sempre ter uma calculadora por perto, até se acostumar com os preços. A religião é predominantemente muçulmana, o que gera fotografias lindas de mulheres e seus véus.

Stone Town é uma caixinha de surpresas. As ruas são extremamente estreitas, onde, geralmente, só passam bicicletas e motos. Dá pra se perder fácil, e com mapa! Há um contingente de turistas italianos o ano todo, o que leva à maioria dos comerciantes a falar a língua. O comércio local é bastante variado, e um passeio no Darajani, o mercado central da cidade, é uma aventura à parte. Lá, encontra-se de frutas a peixes e frutos do mar secos, com churrasquinho de qualquer coisa nas esquinas e pimenta, muita pimenta.

Assim como aconteceu em Maputo, depois da revolução e expulsão dos estrangeiros, as casas de Stone Town foram distribuídas aos cidadãos locais. Então, é bastante comum ver antigas casas de sultão e de grandes comerciantes hoje terem se tornados cortiços, com emaranhados de fios de luz pelas janelas e moradores a perder de vista. Mas o local é bastante interessante, com suas construções que vão de casas com portas tipicamente indianas, com adereços e madeira talhada, a igrejas que imitam catedrais francesas.

Mulheres na colheita de algas em frente ao resort.
De volta à praia, é lá que fica um dos principais produtos de exportação do país: as algas vermelhas. E são as mulheres as responsáveis por grande parte do cultivo. Em frente ao resort onde estava, entre as 11h e as 13h, quando a maré está mais baixa, são as mulheres que predominam na água, cantando e colhendo algas em espécies de canteiros marinhos.

Nas áreas de praia de Zanzibar, dá pra se ver, a poucos metros da areia, a cadeia de corais que envolve a ilha. Nos horários em que a maré baixa, forma-se um banco de areia, onde dá pra se chegar andando, com água pelos joelhos.

Em um dos dias, não resisti e fui fazer snorkeling. Para a surpresa da galera, fomos rodeados por um bando de golfinhos. Deu até pra pular na água e tentar nadar com eles. Lindo demais. Depois de bater perna em Stone Town no dia 30 e fazer snorkling no dia 31, comecei o ano dormindo, claro. Mas aproveitei um pouco da festa que foi feita no resort.

Chamaram alguns "artistas locais" pra fazer um som lá. Ao redor da fogueira, cantaram, dançaram, tocaram tambor. A música que mais gostei é uma que cantam sempre como forma de boas vindas, e que ouvi muita gente cantando, inclusive em Stone Town. Tentei gravar uma parte com o celular, nesse videozinho que coloquei aí no final do post. A principal frase repetida pela galera é o "Hakuna matata", aquela do filme Rei Leão, que quer dizer "Não há problemas". Ouvi muito disso lá.

De volta a Maputo, já sinto falta dos dias tranquilos de Zanzibar. Desejo a todos um 2013 Hatuna matata. Asante sana, Zanzibar!